Toda e qualquer atividade econômica se traduz em impactos ambientais, ou seja, não se pode pensar na economia dissociada do meio ambiente.
A agricultura moderna não constitui uma exceção, sendo possível destacar muitos impactos ambientais extremamente nocivos, em especial quando falamos de monoculturas de exportação, tais como a soja.
Minha intenção é elaborar alguns artigos nos quais seja possível identificar os impactos ambientais decorrentes das monoculturas, dentre os quais:
- Uso excessivo de agrotóxicos;
- Comprometimento da biodiversidade;
- Aumento da população de insetos e agentes fito patogênicos;
- Compactação do solo;
- Desmatamento;
- Erosão do solo;
- Consumo excessivo de água e energia em projetos irrigados;
- Processo de assoreamento de rios e nascentes; etc.
A monocultura significa, por definição, a exploração comercial de cultura agrícola envolvendo apenas um produto em uma grande área de terra (latifúndio)..
As grandes extensões de terras associadas à monocultura representam uma das características marcantes dessa nova agricultura moderna em razão da sua necessidade de garantir economia de escala para sua produção.
As monoculturas são, também, intensivas em capital, máquinas, equipamentos e tecnologia estando, em geral, voltadas à exportação.
Nesse artigo faremos a análise dos riscos da monocultura associados ao uso intensivo de agrotóxicos, usando a soja como estúdio de caso.
A tabela n.º 01 destaca a produção alcançada pelos principais cultivos de grãos em todo o mundo para a safra 2008/2009.
Tabela 1 – Produção mundial de grãos – Safra 2008/2009
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – Usda (janeiro de 2009).
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A tabela n.º 02 destaca a produção da soja e a área plantada em termos mundiais, bem como no que concerne aos Estados Unidos, América do Sul e Brasil.
Tabela n.º 02: A produção de soja e a área plantada
Produção (em milhões de ton.) | Área Plantada (em milhões de hectares) | |
Mundo | 264 | 103,5 |
América do Sul | 136 | 47,5 |
Estados Unidos | 90,6 | 31 |
Brasil * | 75 | 24,2 |
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – Usda (safra 2010/2011).
Fonte*: Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB
A soja considerável importância na geração de renda e empregos no Brasil, contribuindo para os seguidos superávits da nossa Balança Comercial e o consequente equilíbrio da nossa economia.
Entretanto, o crescimento da produção e da área plantada se traduz em problemas ambientais igualmente significativos, tais como o incremento no uso de agrotóxicos.
O plantio de grandes áreas com uma só cultura em detrimento do ecossistema nativo afeta a biodiversidade e favorece o surgimento de pragas e doenças.
Há que se destacar que essas pragas e doenças não se manifestavam em termos econômicos anteriormente, o que pode ser explicado em razão do equilíbrio biológico existente no ecossistema original.
Na medida em que alteramos a biodiversidade alguns predadores são eliminados da cadeia alimentar e o ecossistema local fica desequilibrado, com a ampliação da população de algumas pragas e insetos.
A solução mais comum e rápida consiste em aplicar maciças doses de agrotóxicos nas áreas afetadas, tais como inseticidas, herbicidas, fungicidas, etc.
Uma vez que a resposta à aplicação de agrotóxicos é rápida o agricultor é induzido a fazer contínuas aplicações, muitas vezes em caráter meramente preventivo, o que se traduz em desperdício financeiro e aumento da resistência dos insetos e agentes fito patogênicos (o que é muito pior em termos ecológicos).
O excesso de agrotóxicos se traduz, também, em contaminações do solo e dos corpos hídricos, além da possibilidade de bioacumulação nos diversos níveis da cadeia alimentar.
A questão dos agrotóxicos é muito séria.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) desenvolveu um dossiê bastante detalhado acerca do uso indiscriminado dos agrotóxicos e dos efeitos decorrentes para os ecossistemas e saúde humana.
Dentre as informações relevantes do referido documento podemos destacar:
a) Nos últimos três anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo, alguns deles já proibidos em outros países.
b) Em 2010, o Brasil representou 19% do mercado mundial de agrotóxicos, à frente dos EUA, que representou 17%.
c) As maiores concentrações de utilização de agrotóxicos coincidem com as regiões de maior intensidade de monoculturas de soja, milho, cana, cítricos, algodão e arroz.
d) Na última safra o mercado nacional de venda de agrotóxicos movimentou 936 mil toneladas de produtos.
e) A quantidade de fertilizantes químicos por hectare (kg/ha) chama a atenção na soja (200 kg/ha), no milho (100 kg/ha) e no algodão (500 kg/ha)
f) Mato Grosso é o maior consumidor de agrotóxicos, representando 18,9%, seguido de São Paulo (14,5%), Paraná (14,3%), Rio Grande do Sul (10,8%), Goiás (8,8%), Minas Gerais (9,0%), Bahia (6,5%), Mato Grosso do Sul (4,7%), Santa Catarina (2,1%).
O mercado brasileiro de agrotóxicos é o maior do mundo com 107 empresas produtoras o que representa uma fatia de 16% do mercado mundial. Só no ano de 2009, foram vendidas mais de 780 mil toneladas de produtos em todo o país.
O Brasil também ocupa a sexta posição no ranking mundial de importação de agrotóxicos. A entrada desses produtos aumentou 236% entre 2000 e 2007.
O estudo “Monitoramento do Mercado de Agrotóxicos”, organizado pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Victor Pelaez, gerou dados que apontam a consolidação do Brasil como o maior mercado do mundo de agrotóxicos e também o que tem o maior ritmo de expansão.
Ao longo desta década, o mercado brasileiro cresceu 176%, quase quatro vezes mais do que a média mundial. Este estudo indicou ainda que as dez maiores empresas do setor de agrotóxicos concentram mais de 80% das vendas no Brasil.
Conclusão:
A partir dos documentos destacados nesse artigo podemos concluir o seguinte:
a) Confirma-se plenamente a relação entre agrotóxicos e monocultura.
b) Há forte tendência à elevação do uso dos agrotóxicos na medida em que a fronteira agrícola for ampliada e se observar maior resistência das pragas e agentes fito patogênicos.
c) Os estados que apresentam maior consumo de agrotóxicos estão entre aqueles com maior população, o que pode potencializar os danos e impactos ambientais, em especial sobre a saúde humana.
d) Obviamente não defendemos a redução da atividade agrícola associada às monoculturas em razão dos retornos socioeconômicos proporcionados. Entretanto, entendemos que toda atividade econômica pode ser aperfeiçoada, inclusive no que concerne ao aspecto ambiental.
e) É urgente a adoção de uma política nacional capaz de disciplinar o uso dos agrotóxicos, evitando o seu uso excessivo e alertando para os prejuízos ambientais associados à perda da biodiversidade e acumulação na cadeia alimentar.